segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Anjos


Os anjos

O menino voltou-se para a mãe e perguntou:

Os anjos existem mesmo? Eu nunca vi nenhum.

Como ela lhe afirmasse a existência deles,
o pequeno disse que iria andar pelas estradas, até encontrar um anjo.

É uma boa idéia, falou a mãe. Irei com você.

Mas você anda muito devagar, argumentou o garoto.
 Você tem um pé aleijado.

A mãe insistiu que o acompanharia.
Afinal, ela podia andar muito mais depressa do que ele pensava.

Lá se foram. O menino saltitando e
correndo e a mãe mancando, seguindo atrás.

De repente, uma carruagem apareceu na estrada.
Majestosa, puxada por lindos cavalos brancos. Dentro dela,
uma dama linda, envolta em veludos e sedas,
 com plumas brancas nos cabelos escuros.
As jóias eram tão brilhantes que pareciam pequenos sóis.

Ele correu ao lado da carruagem e perguntou à senhora:

Você é um anjo?

Ela nem respondeu. Resmungou alguma coisa ao cocheiro,
que chicoteou os cavalos e a carruagem
sumiu na poeira da estrada.

Os olhos e a boca do menino ficaram cheios de poeira.
 Ele esfregou os olhos e tossiu bastante. Então,
chegou sua mãe que limpou toda a poeira,
 com seu avental de algodão azul.

Ela não era um anjo, não é, mamãe?
Com certeza, não.
Mas um dia poderá se tornar um, respondeu a mãe.

Mais adiante, uma jovem belíssima, em um vestido branco,
 encontrou o menino.
Seus olhos eram estrelas azuis e ele lhe perguntou:

Você é um anjo?

Ela ergueu o pequeno em seus braços e falou feliz:
Uma pessoa me disse ontem à noite que eu era um anjo.

Enquanto acariciava o menino e o beijava,
 ela viu seu namorado chegando.
 Mais do que depressa, colocou o garoto no chão.
 Tudo foi tão rápido que ele não
conseguiu se firmar bem nos pés e caiu.

Olhe como você sujou meu vestido branco,
seu monstrinho! Disse ela,
enquanto corria ao encontro do seu amado.

O menino ficou no chão, chorando,
até que chegou sua mãe e lhe enxugou as
 lágrimas com seu avental de algodão azul.

Aquela moça, certamente, não era um anjo.

O garoto abraçou o pescoço da mãe e disse estar cansado.

Você me carrega?

É claro, disse a mãe. Foi para isso que eu vim.

Com o precioso fardo nos braços,
a mãe foi mancando pelo caminho,
cantando a música que ele mais gostava.

Então o menino a abraçou com força e lhe perguntou:

Mãe, você não é um anjo?
 mãe sorriu e falou mansinho:
Imagine, nenhum anjo usaria um
 avental de algodão azul como o meu.

* * *
Anjos são todos os que na Terra se
tornam guardiães dos seus amores.
São mães, pais, filhos, irmãos que renunciam a si próprios,
 a suas vidas em benefício dos que amam.
As mães, sobretudo,
prosseguem a se doar e velar por seus filhos,
 mesmo além da fronteira da morte,
 transformando-se em Espíritos protetores daqueles que
 na Terra ficaram, como pedaços de seu próprio coração.












Um comentário:

  1. Belíssimo texto. Anjos existem sim, eles estão dentro de cada um, e se anunciam quando fazemos o bem ao próximo sem esperar reconhecimento.

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